Escola Presente Família

Reservando o experimentar: você deixa seu filho crescer?

Avatar
Escrito por Educação

Em primeiro lugar, devemos levar em conta que informação não é experiência. Experiência “é o que nos toca, o que nos acontece”. Experiência seria, assim, aquilo que vivenciamos com profundidade, com o corpo, com a mente e com a alma, aquilo que nos deixará um legado para reflexões e aprendizados posteriores.

Falta de tempo, excesso de atividades, excesso de informação, excesso de opinião: tudo contribui para que não vivenciemos as situações de fato, para que não tenhamos, ao longo do dia, alguma experiência significativa, transformadora. Podemos passar dias, semanas até, sem vivenciá-las.

Com certeza, não é isso que desejamos para nossas crianças. Elas, ao contrário de muitos adultos, possuem a disponibilidade e abertura para viver uma grande variedade de experiências. Elas demonstram isso, demandam isso de maneira ampla.

E quantas vezes não privamos as crianças de experiências porque estamos ocupados, com pressa, porque consideramos que o que ela vive não tem importância? É uma cena cotidiana comum: a criança está entretida, bem concentrada em algo e nós adultos a “resgatamos” de seu devaneio profundo. As crianças vivem, como nós, com cada vez menos tempo, atrasadas para suas diversas atividades, essas também que muitas vezes não permitem que vivenciem de maneira profunda o que estão dispostas a “ensinar”, melhor dizendo, “informar”.

Estamos sempre nos antecipando ao aprendizado infantil.

Sabemos, porque somos adultos, o que elas precisam fazer para que se formem. Sabemos de seu conforto, de suas necessidades, de suas questões. Deixamos que elas vivenciem a alegria, mas nunca o desconforto, a tristeza, a dor, protegemos as crianças dos males da humanidade, que afinal, deveriam mesmo ficar guardados na caixa de Pandora.

Foi a caixa de Pandora que tirou o homem da ‘idade do ouro’ onde tudo era alegria, fartura e abundância. Tal e quais deuses do Olimpo, escolhemos o que nossas crianças devem ou não viver. E embora as dores, tristezas, arranhões e sofrimentos façam parte da vida humana, as crianças são poupadas.

Assim é que realizamos uma ginástica enorme: nos antecipamos ao tombo, limpamos seus narizes, não deixamos que sintam frio, fome e nenhum tipo de desconforto. Não é de se estranhar que se tornem adultos intolerantes à dor, à frustração, incapazes de serem criativos na solução de problemas e de aceitarem que a vida é também feita de dificuldades e sofrimento. Alguns adultos parecem nunca perceber que as alegrias e felicidades são conquistadas com muito esforço.

Tempo e espaço para a experiência – seja ela boa ou ruim. Como pais e educadores, estaremos ali para consolar, confortar, oferecer suporte e celebrar as alegrias e conquistas diárias das crianças. Mas não para impedir que vivam, por elas mesmas, suas próprias experiências.

(Texto de Soraia Chung Saura, Professora Doutora no Departamento de Pedagogia do Movimento do Corpo Humano da Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo)

Sobre o autor

Avatar

Educação

Comentar