Dicas Didáticas Escola Presente

É tempo de mudanças e de calma

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Escrito por Educação

Esta pandemia nos trouxe uma situação nunca antes vivenciada por ninguém.

Cidades paradas, pessoas distantes e isoladas, escolas fechadas. A única certeza que temos é que tudo irá passar, as cidades voltarão a funcionar, as escolas reabrirão, mas, nossa vida, por enquanto, não voltará ao “normal” de antes.

Diante disso, precisamos pensar como será este momento de retorno das escolas.

Podemos trazer como inspiração uma situação vivida por uma cidade do nordeste da Itália, Reggio Emília. Em um cenário do pós-Segunda Guerra Mundial, com a Europa devastada financeira e emocionalmente, os cidadãos desta pequena cidade, resolveram repensar o futuro a partir de uma nova escola. Neste caso, não só em seu aspecto físico, mas, sobretudo, conceitualmente. E à frente desta nova escola estava o professor e idealizador, Loris Malaguzzi.

Baseando-se na pedagogia da escuta, a perspectiva é a de aprender por meio da escuta, marcada pela disposição do professor em aprender enquanto ensina. Essa escuta permite que o professor entenda como a criança aprende, e a partir daí, pensar alternativas eficientes para ajudá-la a continuar aprendendo, tornando a criança protagonista em seu próprio processo de conhecimento.

Outro fator muito importante neste processo, foi, e é, a interação entre a escola e a família, de modo integrado e participativo; interação que ressalta a criança como centro do processo educativo, assim como, a integração com os professores e as famílias. Ou seja, o diálogo entre todos os interessados na aprendizagem da criança é fundamental.

Neste sentido, os professores também compartilham entre si muitas informações, observações. Toda a escola é focada no aprendizado das crianças.

O ensino não é fragmentado, as áreas do conhecimento não são separadas. Como diz Claudia Giudice, presidente da Reggio Children, “a mente das crianças, dos seres humanos é multidisciplinar, portanto, eu observo a criança enquanto ela conhece, e a criança me devolve essa forma de conhecer. Assim, como educadora, posso expandir esse modo que já pertence à criança…”.

Neste sentido, as linguagens artísticas tiveram, e têm, muita importância nas manifestações das crianças. Por meio delas elas expressam sentimentos, emoções, criam hipóteses, soluções, etc. Os professores, especialistas e pedagogos, trabalham sempre em conjunto com as propostas, a análise da documentação e dos passos seguintes.

A relação ensino-aprendizagem não tem um sentido único. São diferentes saberes que se estabelecem por relação de reciprocidade. Escutar as crianças, ocupa centralidade nesse trabalho pedagógico. Trata-se de uma escuta recíproca, por meio da qual se interpretam significados. Nesse sentido, o valor atribuído ao diálogo não são improviso, pois, para esses educadores, as competências da criança se desenvolvem e são ativadas pela experiência na qualidade da interação; consequentemente, quanto mais se vê a criança como competente, mais competente devem ser a professora e a escola. Trata-se, então, de uma educação baseada no relacionamento e na participação por meio de comunicação e de encontros entre crianças, professores e pais.

Como disse Loris Malaguzzi (1999), “Pensamos em uma escola para crianças como um organismo vivo integral, como um local de vidas e relacionamentos compartilhados entre muitos adultos e muitas crianças. Pensamos na escola como uma espécie de construção em contínuo ajuste. Certamente precisamos ajustar nosso sistema de tempos em tempos, enquanto o organismo percorre seu curso de vida, exatamente como aqueles navios-pirata eram obrigados a consertar suas velas e, ao mesmo tempo, manter seu curso no mar”.

É chegado este momento, de “trocarmos as velas mantendo o navio em seu curso no mar”, é urgente repensar essa nova escola, que já está acontecendo, mesmo com todos distantes, e logo mais presencialmente.

Podemos aprender com a experiência de Reggio Emília, e nos inspirarmos em sua história e suas concepções, para criarmos uma nova escola, com o nosso contexto, nossa história e nossas concepções.

Referência Bibliográfica
EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Leila & FORMAN, Georg. As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999, p. 69.

Para nos inspirarmos seguem dois links sobre a história e a filosofia de Reggio Emília:

Reportagem da TV Univesp:

O Começo da Vida – Filosofia de Reggio Emília:

 

 

 

 

 

 

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